Projeto Mais Teoria da História na Wiki/Concurso de edição Mais Diversidade em Teoria da História na Wiki 2025
Atenção! Este wikiconcurso aconteceu entre 25 de julho e 05 de setembro de 2025 em formato exclusivamente online. Agradecemos a todas as pessoas participantes e esperamos poder revê-las em outras oportunidades. |
Gênero e sexualidade são categorias importantes na organização político-social, histórica e cultural das sociedades. Atuando como sistemas que regulam comportamentos, identidades e relações, esses conceitos também influenciam profundamente a produção de conhecimento. A partir de uma perspectiva crítica, compreende-se que corpos, desejos e afetos não apenas sofrem os efeitos das estruturas normativas, mas também participam ativamente da construção, transformação dos saberes, evidenciando que todo conhecimento é produzido a partir de contextos situados e atravessados por relações de poder.
Um levantamento realizado por Ronald Canabarro em sua tese, cujos resultados são apresentados e atualizados no site História Transviada, identificou que apenas 0,78% das Teses e Dissertações defendidas em Programas de Pós-Graduação de História no Brasil, entre 1942 e 2022, trataram de temas relacionados a gêneros e sexualidades dissidentes — isto é, aquelas que desafiam a heteronormatividade e/ou a cisnormatividade.[1] O dado revela não apenas a marginalização das temáticas no campo historiográfico, mas apontam para os limites estruturais e epistemológicos que condicionam a visibilidade de certos corpos, experiências e formas de existências na produção acadêmica brasileira, especialmente na área de história.
Assim como Eve Kosofsky Sedgwick e Judith Butler apontaram, a heteronormatividade estrutura não apenas relações sociais, mas também a produção do conhecimento histórico[2][3]. Joan Scott reforça essa ideia ao demonstrar como o gênero opera como uma categoria histórica — não neutra — que exclui dissidências.[4] Na mesma linha, projetos como Whose Knowledge? e o Wikimedia LGBT+ evidenciam que ecossistemas digitais, como a Wikipédia, também reproduzem essas exclusões quando não enfrentam as assimetrias de gênero e sexualidade em sua base de editores. Segundo uma pesquisa feita pela Wikimedia Foundation, apenas 12% de pessoas da comunidade LGBT editaram um artigo na Wikipédia. Ainda, foi notado que as lacunas de representação sobre gênero e sexualidade não é uma exclusividade dos projetos wikimedia, mas um problema que se estende à mídia brasileira em geral. Isso revela a possibilidade dos projetos wiki serem um espaço de inclusão.[5]
Apesar da crescente difusão destas importantes ideias, a Teoria da História ainda apresenta dificuldades em assimilar a reflexão sobre sexualidade e conhecimento. A dualidade corpo e mente continua a estruturar a compreensão sobre a produção do conhecimento, como se fossem substâncias distintas. O acúmulo de reflexões sobre a corporeidade na produção de conhecimento histórico é recente e busca inserir-se como um tópico central na teoria da história. “Estaria a história saindo do armário?”, já se perguntaram os estudiosos da área Elias Ferreira Veras e Joana Maria Pedro.[6]
A ideia de posicionalidade tem ganhado destaque nos debates atuais sobre como produzimos conhecimento. Mariana Barbosa de Souza nos lembra que o saber histórico nunca surge de um lugar neutro ou distante — ele é profundamente marcado por quem somos, onde estamos e no que acreditamos.[7] Nossa existência, nossos corpos e nossos posicionamentos políticos influenciam a maneira como interpretamos e escrevemos a história.
Considerar a sexualidade e o sexo/gênero como elementos fundamentais na produção do conhecimento implica reconhecer a complexidade dos fatores que influenciam essa atividade. Tal abordagem busca compreender as interações entre os sujeitos que produzem conhecimento histórico e os resultados de suas investigações, enfatizando não apenas os fatos em si, mas também as dimensões éticas, ontológicas e epistemológicas envolvidas nesse processo.
É considerando estas inquietações que a edição de 2025 do Mais Diversidade em Teoria da História na Wiki será realizada. Neste ano, prestamos uma homenagem especial a três pessoas cuja trajetória ecoa os desafios e as insurgências que marcam a luta por reconhecimento na história: uma mulher transexual e duas mulheres cisgênero lésbicas - Márcia Maia Mendonça, Cassandra Rios e María Lugones. A escolha não é casual: ao evidenciar diferentes formas de ser mulher e dar destaque às experiências lésbicas, o evento também se inscreve nas celebrações do mês da Visibilidade Lésbica, que marca datas fundamentais como o 19 de agosto — Dia Nacional do Orgulho Lésbico — e o 29 de agosto — Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. Reconhecer essas trajetórias é reafirmar que o conhecimento se faz também a partir das potências dissidentes e dos corpos que rompem as margens da norma, escrevendo novas possibilidades de existência e memória.
Ao tentar reunir mais informações sobre vozes dissidentes e sujeitos insurgentes na escrita da história e para além dela, o WikiConcurso Mais Diversidade se alinha aos princípios do enciclopedismo, criando uma oportunidade para que tais lacunas no conhecimento possam ser reduzidas. Se, como lembra Eve Sedgwick, o armário é uma metáfora do silêncio estrutural, será que podemos, nessa força tarefa, quebrar esse armário e contemplar a história fora dele?[8]
Atividade
[edit]Junte-se a nós nessa tentativa de deixar o mundo digital mais plural! Inscreva-se até 05 de setembro:
Este concurso abarca edições na Wikipédia, no Wikimedia Commons e no Wikidata. Organizamos diversas listas de verbetes na Wikipédia e itens no Wikidata para edição e criação, bem como de multimídias no Wikimedia Commons para upload. Caso tenha interesse em editar algo que não esteja nas listas, entre em contato conosco através da página de discussão ou por e-mail 😉
Encorajamos todas as pessoas interessadas em participar do concurso a lerem as regras. Lembramos que o não cumprimento das regras pode levar à invalidação das edições realizadas. Participantes com qualquer nível de experiência e residência em qualquer país podem concorrer. Se você for uma pessoa novata na Wikipédia, no Wikimedia Commons ou no Wikidata, sugerimos que assista aos tutoriais.
Todas as atividades deste evento são gratuitas e conferem certificado de extensão emitido pela Universidade Federal de Sergipe. É obrigatório possuir uma conta nos projetos Wikimedia para realizar a inscrição, que deve ser informado em campo próprio. As edições serão monitoradas e contabilizadas através da ferramenta Programs & Events Dashboard para fins de avaliação do evento.
Pré-requisitos para participar
[edit]- Disposição e interesse em dar visibilidade às questões de gênero e sexualidade no universo Wikimedia!
- Conta nos projetos Wikimedia (caso ainda não possua, crie uma em menos de um minuto aqui).
- Ler com atenção as regras e diretrizes.
- Querer ganhar prêmios personalizados.
Referências
[edit]- ↑ Canabarro, Ronald (2024-05-20). - Historiatransviada.com - dar a ver uma historiografia pública digital (Thesis). Fundação Getúlio Vargas. Retrieved 2025-03-17.
- ↑ Sedgwick, Eve Kosofsky (2007-01-01). "A epistemologia do armário". cadernos pagu 28: 19–54.
- ↑ Butler, Judith (2003). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Civilização Brasileira.
- ↑ Scott, Joan (1995). "Gênero: uma categoria útil de análise histórica". Educação & Realidade 20: 71–99.
- ↑ Wikimedia Foundation Communications (2022-10-26). "DEI Research Brazil" (PDF). Retrieved 2025-05-28.
- ↑ Veras, Elias Ferreira; Pedro, Joana Maria (2014-09-01). "Os silêncios de Clio: escrita da história e (in)visibilidade das homossexualidades no Brasil". Tempo e argumento 6 (13): 90–109. doi:10.5965/2175180306132014090.
- ↑ Souza, Mariana Barbosa de (2022-12-20). A mapeadora de ausências: metapesquisa da produção histórica sobre a população LGBTQIAPN+ no Brasil (1987-2018) (Thesis). Universidade Estadual de Ponta Grossa. doi:10.1590/18094449201600470017.
- ↑ Sedgwick, Eve Kosofsky (2007-01-01). "A epistemologia do armário". cadernos pagu 28: 19–54.

