User:TiagoLubiana/Wikimedia Hackathon 2025
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O relatório a seguir foi escrito continuamente ao longo da viagem. Decidi fazer em português originalmente, pois consigo maior expressividade. Fui fazendo um semi fluxo de consciência, sem links ou imagens no corpo, em prol de uma experiência de escrita limpa e offline. E também para ter um relatório leve, fácil de transportar e traduzir.
Ao longo do tempo, a versão em português talvez ainda seja melhorada, afinal, esta é a grande vantagem do padrão Wiki :).
Notas e relatório de viagem - Wikimedia Hackathon 2025, Istambul
[edit]A hackathon sempre começa antes da Hackathon. Estudei um pouco sobre a cidade, no caso Istanbul, a famosa Constantinopla dos livros de história. Há voos diários de São Paulo, com a viagem durando por volta de 13 horas. O programa do evento é aberto e foi feito colaborativamente em uma página aberta no MediaWiki chamada "Wikimedia Hackathon 2025". A página wiki do evento inclui também os contatos dos participantes, o que permite já adiantar interações e planejar projetos.
O preparo para a hackathon inclui decidir o que fazer por lá. Isso inclui, por exemplo, planejar sessões além de um, ou mais, projetos para trabalhar. Inclui também escolher alguma lembrancinha para compartilhar. Eu costumo levar sempre um pacote de paçoquinhas, o que sempre faz sucesso com os paladares açucareiros.
Em relação às sessões, acabei por decidir usar a oportunidade para melhorar a ferramenta iNat2Wiki, que mantenho há bastante tempo. Começar uma reescrita do projeto com um pouco mais de maturidade, e bebendo da experiência dos Wikimedistas por lá.
Além disso, uma das ideias que motivaram meu pedido de bolsa em primeiro lugar é conectar a comunidade latino-americana, visando alimentar uma cultura wiki-hacker local.Quem sabe, até, fomentando uma WikiHackathon na América Latina? Conexões locais, voos mais curtos e foco nas necessidades compartilhadas da América Latina, parece uma boa ideia.
Por fim, como equipe de voluntários de fotografia, separei também uma câmera que tenho. Apesar de não ser topo de linha, é uma DSLR, APS-C razoável e a lente 75-300mm permite alguns ângulos de telefotografia não tão comuns, complementando os celulares e as poderosas câmeras dos WikiFotógrafos europeus.
Dia -1
[edit]Eu e Érika Guetti, também do Wikimedia Brasil, fomos no mesmo vôo. Saímos de Guarulhos às quatro e dez da manhã, chegando em Istambul lá para as onze da noite. O vôo veio da Argentina e trouxe com ele também Diego de la Hera e David.
Depois do controle de passaporte, encontramos o transfer arranjado pelo evento e embarcamos em direção ao Hotel Polat Renaissance em Yeşilyurt. Nos pareceu bem chique, talvez até chique demais. É um padrão diferente do que estamos acostumados no Brasil. O padrão programador europeu de qualidade.
Os quartos também foram distribuídos individualmente, sendo espaçosos como uma pequena casa. Meu quarto, 2507, ficou no andar -2, com vista para garagem e no nível do mar, um pouco assustador dado a atividade sísmica recente e o risco de tsunami. Ondas a parte e apesar do adiantado da hora (01:00), consegui comer com o serviço de quarto coberto pela bolsa para esta madrugada. Comi uma salada e uma sopa de lentilhas e fui dormir.
Dia 0
[edit]Acordei e fui tomar café-da-manhã. Tomei o café com Diego de la Hera e AKlapper, dando início às interações hackatônicas. O café do hotel era compatível com o quarto, com mais de 15 tipos de queijos e variedade grande de ofertas, de toranjas a jalapeño poppers. Comi também o típico doce lokum, saborosíssimo. Nas idas do dia, comprei uma caixa sortida com 6 sabores para distribuir como lembrancinha.
Saí à francesa e fui bater perna na cidade. Peguei o trem na estação Yeşilyurt rumo a estação Sirkeci, uma região mais central da cidade. Istambul tem três costas diferentes: duas europeias, separadas pelo Chifre de Ouro e uma asiática, separada pelo Estreito de Bósforo.
Me distraí e quando saí do trem, estava na Ásia, cruzando um enorme túnel transcontinental por mera distração E pensar que Vasco da Gama teve que circundar a África para isso. C. Voltei rumo a Sirkeci, mas perdi a estação de novo. Só aí fui entender que na verdade ela estava fechada. A estação Sirkeci, próxima a Ponte de Gálata, estava bloqueada, provavelmente por causa dos protestos de primeiro de maio, programados para ocorrer do outro lado da ponte, na Praça Taksim.
Estava chovendo, mas mesmo assim saltei em uma estação anterior, paguei 150 liras turcas em um guarda-chuva e fui andar. Passei por muitas, muitas lojas. Istanbul fervulha com comércio, com bazares dos tipos mais variados, alguns externos, alguns internos. Há também muitas mesquitas, e tive a oportunidade de visitar por fora Sultanameht e a Hagia Sophia. Esta segunda, admito, tinha um grande interesse em conhecer pelo destaque dado a ela no jogo Civilization VI. E é linda mesmo, valeu a pena.
Segui andando até o Parque Gulhane, com belíssimas alamedas de tulipas, um lado mais bucólico de Istanbul. Aliás, a cidade inteira tem gabarito baixo e é bem caminhável, pensada para pessoas. Me lembrou um pouco Barcelona, também pelas onipresentes gaivotas e pelo jeitão mediterrâneo. Perto do parque, a Ponte de Gálata estava recheada de pescadores com longas varas, que competiam com as aves pelas pequenas sardinhas. Também estava recheada de policiais, com tráfego de carros bloqueado, parte do aparato de segurança maior.
Não me aventurei até o outro lado do chifre e retornei. A cidade intercala planícies com colinas, e as ladeiras de pedra desafiam as solas dos calçados. Tomei apenas um estabaco e me considero no lucro. Menos sorte teve o guarda-chuva, que partiu-se.
Esse caminho, passei pelo Grande Bazar de Istanbul, cheio de gente, cheios de cheiros. O bazar é mesmo enorme, uma cidade com ruas, bueiros e ladeiras sob um único teto. E embaixo desse teto, os turcos fumam cigarros ininterruptos. Como fumam os turcos! Há espaços fechados para fumantes em todos os estabelecimentos, um pouco como em outros países da Europa. No Brasil, isso é proibido há tanto tempo que eu nem sei dizer se já existiu — dizem que sim.
Dando o fim ao passeio, peguei o trem e voltei ao hotel. Parei no mercado Migros para comprar um café turco e encontrei minha colega Érika com outra brasileira, Marina, que trabalha na equipe de desenvolvimento mobile de iOS da Wikipédia. Coisa séria. Aos poucos, a concentração de wikimedistas foi aumentando até o ápice no lobby do hotel, com rostos familiares abundando. Fiz meu registro no evento e agora tenho um chique crachá que diz Tiago Lubiana - Biodiversity Heritage Library. Pauso a escrita para usá-lo: está na hora do jantar que marca o início de jure da programação da hackathon.
O jantar foi bacana, aos poucos vou encontrando outras pessoas pela hackathon. Waldyrious e Alchimista chegaram direto de Portugal para o jantar, assim como Alberto, que veio da Bahia. Também conversei com Elwin Huaman, o criador da Qichwabase. Era uma figura que queria conhecer a bastante tempo, bem bacana.
Dia 1
[edit]O dia começou com o café da manhã, que comi junto a Mohammed Sadat (WMDE) e Artur Côrrea, do Brasil. Conversamos sobre o Quickstatements e os planos futuros do Wikidata. Interajo muito com Mohammed pela internet, mas nunca haviamos nos conhecido. Saciados, fomos para a cerimônia de abertura do evento.
A organização apresentou a ideia, falou que esta é a maior hackathon da Wikimedia desde que o projeto começou, com mais de 200 pessoas. A Turquia é um país muito amigável para vistos, além de ser um hub para voos internacionais, o que permitiu uma participação bem mais diversa do que o comum. Muitos participantes africanos, indianos e latino-americanos. QUe bom!
Tivemos falas do Trust & Safety e fomos lembrados da importância de manter um espaço amigável. Tivemos de dicas sobre o que fazer em caso de tsunami. E, então, a parte principal: a apresentação dos projetos. Formou-se uma fila, e por volta de 100 pessoas, 30 segundos cada, apresentaram suas ideias, capacidades e pedidos. Apresentei nossa sessão de domingo sobre o cenário de tecnologia e WIkimedia na América Latina e já comecei a conectar as pessoas.
Os projetos trouxeram ideias variadas, incluindo ferramentas em Python, Wikibases, bots, dados estruturados no Commons e outras coisas que muito me interessão. Também foi uma oportunidade para colocar um rosto em figuras que so conhecia no mundo digital. Particularmente, fiquei muito feliz de conhecer Gnoee e Addshore, os quais acompanho a muito tempo, desde o início de 2020 quando comecei a organizar o WikiProjeto de COVID-19 no Wikidata.
Dessa vez, participei de menos sessões que quando fui à Hackathon em Atenas. Dediquei muito tempo a conversas, estabelecer laços e desenvolver software. Na primeira sessão de trabalho, trabalhei na reorganização do inat2wiki, pensando o que preciso pensar antes de reescrever uma ferramenta. Christine, do time de finanças, me apoiou bastante com as ideias iniciais. Também cruzei ideias com Antonin/Pintoch e fiquei conhecendo a instância do GitLab da fundação Wikimedia.
A reorganização avançou bem, criei documentação, escrevi testes, desacoplei o aplicativo Flask do módulo do PyPI entre outras coisas técnicas. Participei apenas de uma sessão de manhã, organizada por Mike Peel, sobre como categorizar as fotos da hackathon no Commons. Esse ano estou também tirando menos fotos, pois já conheço mais pessoas e estou mais mergulhado nos projetos técnicos — e aproveitando muito. Ainda assim, tenho algo a contribuir, especialmente da sessão de abertura.
Bati bastante papo no jantar com André Alchimista, de Wikimedia Portugal, que me contou um pouco mais sobre as atividades do Capítulo ao longo dos anos. Também conversei com a Marina, dos apps IOS, conversando sobre uploads ao Commons e mostrando a UI do novo app do iNaturalist. Em breve devo fazer um user testing para ela do app da Wikipédia no iPhone.
Na sessão seguinte de hacking, tive oportunidade de falar e ouvir italiano pela primeira vez, e me impressionei como consegui entender tudo. Falar, bem, não foi tão semplice. Mas entendi tudo que os outros Elena, radicada na Áustria, e Valerio, dedicado ao Phorge/Phabricator, explicaram. Só ainda não consegui testar o alemão. Quem sabe?
Montamos uma mesa de trabalho onde reinava a língua portuguesa. Artur, que desenvolve o Quickstatements versão 3, me apresentou a seu fluxo de trabalho hacker com ferramentas pós-modernas como o editor Helix e o browser orientado a teclado Qute. Waldir, Wikimedista caboverdiano de longa-data me apresentou o livro Hackers: Heroes of the Computer Revolution, que foi para minha lista. Também me apresentou os rebuçados, doces tradicionais de sua terra, feitos de açúcar de cana.
Conversei também com o Lukas Wermeister, que é meio-brasileiro e trabalha no Wikidata. Falei com ele sobre a Wiki Con Brasil e uma oportunidade de talvez voltar à visitar nossa terra. Me deu o acesso ao canal do Mastodon wikis.world, agora é ver se uso.
Já perto da meia noite, tive oportunidade de conversar com o pessoal de Kerala, Gnoee, Manoj e um colega que esqueci o nome. O grupo de Kerala é incrível, e conversamos muito sobre a Índia, o estado, a natureza, Open Street Maps, Wiki Loves Birds, a Biodiversity Heritage Library e mais. Amanhã ficamos de trabalhar no BirdMaps, mas agora estou exausto e vou dormir.
Dia 2
[edit]Tomei o café da Manhã com diego e a equipe hispanohablante de Abstract Wikipedia / WikiFunctions, ambos com Fairphones. Gostei de ver a quantidade de laptops Framework e celulares Fairphones, feitos com reparabilidade em mente. Hackers abertos raiz. Aguardo o dia de conseguir comprar-los no Brasil.
Saí do café direto para uma sessão sobre como adicionar metadados de livros no Wikidata com Waldir e Artur. Aproveitei o tema bibliográfico para conversar, sobre a divisão (graph split) do endpoint SPARQL do Wikidata com James Hare e Wolfgang Fahl. Ainda no tema, tivemos um papo sobre modelagem de livros com Jonathan Tweed, que no passado, trabalhou nos arquivos da Wellcome Collection.
Após este momento bibliográfico, almocei com Ismael , da Espanha, e Johana Botero, da Wikimedia Colombia. Conversamos sobre o Living Data 2025, os talleres de dados abertos que estão planejando e a possibilidade de uma colaboração.
Segui, então, com as conversas sobre como documentar o graph split com o Waldir, que deu dicas valiosas de um plano de ação. Conversei também com o Mohammed, que deu vários nomes da equipe da Wikimedia Deutschland para conversar sobre o tema.
Tirando o dia para as conversas, segui para a mesa de user testing do aplicativo da Wikipédia para iPhone/iOS. Uma das 3 pessoas da equipe é a Marina, que é brasileira e vive em São Paulo. Muitas coisas bacanas, mas a tradução para o português, feita no translatewiki colaborativamente, deixa um pouco a desejar. Fazer uma tradutona seria legal.
Junto com o Artur, começamos a agir sobre a ideia de fomentar a cultura wikihacker na América Latina, e enviamos uma sessão de 1h30 para fazer uma mini-hackathon na Wiki Con Brasil, em Salvador. Parece divertido. Também recebi mais uma dica hacker: o uso do gerenciador de senhas bitwarden, mas ainda não testei. Como o dia já estava bem orientado aos diálogos, concatenamos a sessão com um breve passeio na praia adjacente ao hotel. O Alberto Leoncio foi também, e contou mais sobre os desenvolvimentos do Capacity Exchange, software de troca de capacidades entre Wikimedistas. Parece promissor.
Ao voltar ao hotel, conheci no jantar a Olga, da equipe de UX design da fundação. Russa, ela surpreendentemente mora em São Francisco Xavier, uma localização bucólica de muita natureza perto de São Paulo. De fato, me surpreendeu o número de brasileiros (ou abrasileirados) no movimento Wikimedia que eu não conhecia, pessoas boníssimas fazendo coisas muito interessantes. Além da Olga, Levi, que é desenvolvedor na fundação, e Luis, do Board of Trustees, são duas dessas pessoas, que fui conhecer só do outro lado do Atlântico. E do Mediterrâneo, por sinal.
Depois, fui ao quarto falar com minha família. Ah, como tenho saudades! 1 ano é uma idade tão linda. Minha filha falou vários "babás" na video-chamada, que é sua materialização de "papai".
Por que falo isto? A Hackathon é feita de pessoas, sabe? E temos essas várias vidas. Como vou querer contar como foi a hackathon sem mencionar a falta tremenda que fazia minha pequena criatura? Só a Hackathon mesmo para me fazer voar para tão longe.
Pois bem, quando terminei a conversa já era lá para as 23:30, e eu ainda queria fazer bastante coisa. Voltei para a sala de hacking e encontrei muita gente. A mesa lusófona estava cheia, todos mergulhados em seus projetos, fechando os detalhes para apresentar no dia seguinte.
Fui tentar fazer uma modificação no QuickStatements V3, aproveitando a presença do dev Artur. Fui rodando Quickstatements V3 localmente, encontrando entraves. Desisti da modificação e fui usar meu tempo para algo absolutamente positivo: documentar. Acho que ficou bom, ou ao menos bom ao suficiente. Lá para as 3 da manhã consegui rodar o QSV3 localmente, com apoio documentação nova.
Com a sensação de já ter melhorado um pouquinho o planeta, fui trabalhar no inat2wiki, meu projeto inicial. Com ajuda do ChatGPT, fui adicionando o Flask-Babel para o iNat2Wiki, criando suporte para traduções, além de fazer algumas edições estéticas. Tenho uma relação ambígua com LLMs programantes. Aumenta muito a velocidade, sim, é verdade, mas algo da experiência incomoda. É um aprendizado caótico, move fast, break things. Dá certo, mas só até o ponto que não dá.A minha impressão é que funciona muito bem até um certo ponto, a partir de onde se torna impossível avançar sem recorrer a estudos mais profundos e first principles. Protótipos saem voando, produtos nem tanto.Bem, aos trancos e barrancos, consegui implementar o sistema e talvez aprender uma coisa ou duas.
Quando as outras duas pessoas na sala resolveram sair, peguei carona e fui dormir. O dia completava cinco horas de vida, a sessão de Wikimedia Hackathon y Latino América começava em mais um par. Ah, que boas horinhas de sono.
Dia 3
[edit]Acordei animadíssimo com as atividades da manhã. Tomei o café e outro café e comi alguma coisa e fui para a sala "Istanbul".
Fizemos um círculo com as cadeiras e, como a Érika diz, começamos a "terapia de programadores". Cada um se apresentou e falou uma coisa ou outra sobre a vida. Aos poucos vamos nos conhecendo.
A conversa foi caminhando, com eu e Nat mediando os ritmos. Todos pareciam muito animados com a ideia de fortalecer a comunidade técnica na América Latina, inclusive a Karen, mexicana da Fundação Wikimedia. Há agora um momentum, uma massa crítica que é bem especial. Um clima colaborativo e coordenado que só pode anteceder coisas boas. Saímos com três encaminhamentos. Primeiro, um grupo no Telegram para discutir tecnologias wiki na América Latina. Segundo, uma troca de capacidades através do Capacity Exchange, ferramenta de nome gringo, mas de desenvolvimento tupiniquim. E por fim, com a certeza de uma Hackathon latinoamericana, ainda sem data, mas já com um embrião de uma Comissão Organizadora. Falamos depois com Amanda, da Fundação, estimulando o grupo a ir adiante. Iremos!
Depois, fui dividir a atenção entre duas sessões, uma do Jorge sobre a ferramenta Paulina, e outra da Halley sobre as APIs no movimento. A de APIs estava completamente lotada. É um tema realmente quente, e a perspectiva de melhor experiência/usabilidade é um refresco para a comunidade desenvolvedora.
Voltamos então à terapia, mas dessa vez no formato “fish bowl”, ou “aquário”, introduzido por douginamug e Pintoch. 4 cadeiras no meio, abertas para um bate-papo. 12 cadeiras em volta, em silêncio. De forma automoderada, as pessoas entram e saem do aquário, e os tópicos e ideias fluem livremente.
O modelo funciona muito bem na teoria, claro. Na prática, pode dar errado ou não. Dessa vez, não deu. Errado. Deu certo. E muito certo.
Em uma das melhores discussões técnicas que já participei, uma combinação de novatos e experts trouxe ideias, experiências e propostas para melhorar o ecossistema de ferramentas Wikimedia. Muitos dos aplicativos que apoiam a Wiki são frágeis, mantidos por indivíduos sozinhos. É o que chamam de bus factor. Se quem cuida se acidenta com um busão, o projeto sosme. Documentação foi um tema comum, assim como estratégias para dar permisssões avançadas de contribuição (por exaemplo fechar merge requests, em linguagem técnica). Falamos de modelos "jazz-band" e de progressão automática de permissões como no StackOverflow. Falamos de confiança extendida: eu confio em quem eu confio confia. Várias ideias que vão construindo uma cultura.
No âmbito prático, saí decidido que a melhor forma de começar a contribuir com um projeto é melhorar a documentação. E também que primeiras contribuições oneram os mantenedores, e o real ganho técnico vem de uma comunidade forte.
Depois desse mar de comunidade, fui chamado pelo Manoj para bater um papo, e me juntei a ele, Ranjithsiji e Jinoy Esse grupo, Open Data Kerala, está realmente fazendo coisas lindas no sul da Índia. Na interseção de Open Street Maps, Wikidata e biodiversidade, o grupo é um BINGO perfeito para as áreas em que eu tenho interesse. Eles organizam uma campanha linda, o Wiki Loves Birds India, e estão para organizar o Wiki Loves Earth Índia. Conversamos sobre as ferramentas que faço e sobre estratégias para esses concursos. E claro, sobre quando visitarei Kerala! Parece ser um estado magnífico, e assumiu a cabeça na lista dos lugares do mundo que quero conhecer. Almoçamos e seguimos para o encerramento.
No meio tempo, David Lynch postou uma bela foto de água-viva no grupo da Hackathon. Pedi educadamente, e ele colocou no iNaturalist, sua primeira contribuição para a plataforma. Obrigado! A licença default do iNaturalist atrapalhou o fluxo rápido, pois sendo CC-BY-NC, é incompatível com o Wikimedia Commons. Se apresenta uma ótima oportunidade para testar os fluxos sociotécnicos, além de como o iNat2Wiki lida com licenças incompatíveis. Tudo se aproveita, lixo é invenção.
Começando às duas e terminando às quatro, a cerimônia de encerramento é uma pérola. Cada grupo apresenta, em até dois minutos, as coisas que fizeram durante o evento. ou colocar uma lista de links ao final, são tantos e tantos! Ferramentas para rastrear contribuições técnicas. Para melhorar as interfaces e fluxos de edição. Para analisar as referências de um artigo.Para organizar campanhas. Até jogos com Wikidata e Wikipédia o pessoal fez.
(escrevo essas palavras no avião de volta; sobra-me sono, falta-me inspiração. Ora Tiago, isso é um diário-relatório, não um romance. Está tudo bem. )
Em meio a tudo isso, eu, Nat e Carla Toro apresentamos sobre a sessão sobre a Hackathon na América Latina. Aplausos vigorosos e muita aprovação geral. Saí do púlpito com a sensação de missão comprida e com a certeza que essa semente de comissão organizadora irá brotar.
Concomitante à cerimônia, consegui terminar uma das coisas que me propus: atualizar a ferramenta BirdMaps no Toolforge. Estava bem cansado, então me embananei um pouco com o fluxo, mas no fim deu certo. Está lá, pronta para a brincadeira de conectar lugares de observação de aves com o Wikidata.
Para encerrar o evento, os mais de duzentos participantes foram convidados a embarcar em uma balsa. Navegamos festivamente pelo Bósforo. Istambul é uma belíssima cidade, com palácios, mesquitas, faróis e mansões históricas dialogando com edifícios espelhados e curvilíneos, esbanjando modernidade. Há também muitas gaivotas, que dividem o mar com imensos cargueiros e luxuosas lanchas. Com a lente teleobjetiva, flagrei uma fantasia de Pikachu boiando pelo mar de Marmara, talvez a mesma fantasia que ganhou a mídia do mundo ao ser usada nos protestos turcos semana passada. Rendeu boas risadas.
Um encerramento lindo para um grande evento. Pudemos calmamente nos despedir e planejar ações futuras. Conversei bastante com Carla Toro e Nat, e os preparos para uma Hackathon na América Latina começam a tomar forma. Há muito que fazer, e muita articulação por aí, mas a perspectiva é excelente.
Saio de Istambul confiante da força do Movimento Wikipedia e da exuberante capacidade técnica da comunidade. Ademais, é lindo ver tanta gente excelente reunida em prol do software livre para o conhecimento livre, cooperando, criando, crescendo. É inspirador. Tenho imensa sorte e gratidão de fazer parte de tudo isso.
Links favoritos da Hackathon:
[edit]Bem, teve muito mais coisa interessante. Isso é o que meus três neurônios conseguiram guardar:
Destaques
[edit]- A página da Hackathon em si: https://www.mediawiki.org/wiki/Wikimedia_Hackathon_2025
- A sessão final: https://etherpad.wikimedia.org/p/Wikimedia_Hackathon_2025_Closing_Showcase
- Nossa apresentação na sessão final: https://youtu.be/rz5r8dCeC2M?t=1982
- O ticket do Phabricator para o iNat2Wiki-dev: https://phabricator.wikimedia.org/T392822
- O ticket do Phabricator para a sessão latinoamericana: https://phabricator.wikimedia.org/T392770
- A versão trilíngue do iNat2Wiki: https://inat2wiki-dev.toolforge.org.
- A ferramenta birdmaps, para conectar eBird e Wikidata: https://birdmaps.toolforge.org/
Ferramentas que gostei de ver
[edit]- Para aferir contribuições técnicas: https://techcontribs.toolforge.org/
- Para colocar etiquetas de tradução no Meta: https://translatetagger.toolforge.org/
- Para eventos e afins (estou no avião e não lembro exatamente): https://campwiz.wikilovesfolklore.org/
- Para simplificar a criação de links curtos: https://en.wikipedia.beta.wmflabs.org/wiki/Fox
- Para adicionar livros no Commons, por Waldir: https://waldyrious.net/bookform/
- Motivação inicial do Waldir: https://inventaire.io/welcome
- Para analisar referências em um artigo Wikimedia, colocando emojis correspondentes aos tipos https://gist.github.com/KevinPayravi/6038abb6334d92fc42e35b2e115c6343 (por Kevin Payravi + Jenny 8. Lee, meus colegas das 5 da manhã)
- Para fazer galerias múltiplas, o que parece bem útil para campanhas de fotos: https://gitlab.wikimedia.org/toolforge-repos/multigallery / https://ranjithsiji.github.io/multigallery/
- Para programar viagens de forma divertida: https://velorail.bitplan.com/
- Para navegar o Commons modernamente; pode ser interessante para o conteúdo da Biodiversity Heritage Library: https://hnordeen.github.io/Commons-Swipe/
Outros
[edit]- A foto de água-viva que o David subiu ao iNaturalist: https://www.inaturalist.org/observations/278326464